30 de agosto de 2014

Eu quero é ser poesia!


Eu não sou poeta. Não sou nada além de um punhado de teorias embaralhadas numa cabeça confusa. Os lábios não ousam dizer o que meus terminais nervosos teimam sentir, os dedos são lentos demais para transmitir as frases que se formam cada vez mais rápidas, a história se perde antes do início. Me pergunto quantos personagens matei quando virei as costas ao sentir e reneguei as constelações que eclodiam no peito. Pedaços meus que se perderam nas ruas estreitas do centro.

E existe essa ânsia que nunca adormece, esse desejo crescente e curioso de descobrir o que acontece depois do ponto final. Penso muito no amanhã, apesar de fugir de retóricas futurísticas. O futuro me parece uma música antiga, por mais contraditório que soe, uma música que escutamos anos atrás e já esquecemos a letra, e então ela volta numa festa qualquer, num rádio qualquer, um domingo qualquer, até recordarmos cada tom. Tenho medo não ter do que lembrar até o refrão.

A verdade é que sou uma farsa, dito verdades mas é certo que nada sei. O que há do lado de fora me atrai porque fujo de mim o tempo todo. Teus olhos são doces mas o mundo é vil, você olha o mundo e se torna amargo. A contradição está por todos os lados e não é possível transbordar nada, senão o silêncio. Eu não sou poeta e nem queria ser, não sou nada além de um punhado de incoerências capazes de formarem frases tão insanas quanto velozes. Os dedos se perderam mais uma vez, e lá se foi mais um raciocínio.

29 de agosto de 2014

Fix me

Tem sido tão fácil chorar. Lágrima, um pedaço que desfalece e desliza pelas pálpebras como quem se atira em um abismo. É como ter o que tanto precisa, e ainda assim não ser suficiente. É a frase da música de Coldplay que soa na cabeça "Stuck in reverse". É a solidão que, dorme com os pés entrelaçados aos meus como quem protege alguém que não cabe no mundo lá fora. E não caibo. Não há encaixe. Me desfaço entre detalhes. A lágrima que se escondeu nos cílios, os lábios trêmulos que engolem declarações, tudo me toma surpreendentemente, como se as partes que não me cabem na verdade estivessem dentro de mim, num ponto tão profundo que não pudesse ser descoberto.

Também sou desprezo, o mundo mora em grande parte do meu peito, o renego e guardo só para quem não teme os fantasmas, porque sou meus próprios demônios. E há em mim tantas coisas tristes e doídas, tantos sonhos que desaparecem na impossibilidade. Tanto. Sou excesso. Para cada coisa bonita que ouço, há infinitas tristezas que desdenham cada palavra, então me perco naquilo que foi. Estou perdida e ninguém vê. Cada passo é um a menos para o indefinito, tudo o que me acrescenta, também é tirado no outro extremo. O arfar é um a menos na contagem. Cada lágrima, um suicídio.